O vilão é o boi, não o papel
Caros Leitores,
Nesta edição resolvemos colocar o dedo em uma velha ferida. Há mais de uma década a indústria papeleira tem sido apontada (injustamente) como um dos grandes vilões, quando o assunto é a preservação do meio ambiente. Pois nossa equipe foi a campo e conseguiu comprovar o contrário...
Certamente você já deve ter recebido aqueles emails, onde abaixo da assinatura do remetente há uma singela mensagem dizendo: "Antes de imprimir, pense na sua responsabilidade com o Meio Ambiente". Como pretendemos provar, esta é uma idéia bastante equivocada e ingênua, que associa a produção de papel à destruição de florestas. Pois saiba que a realidade é muito diferente.
Segundo dados da Abigraf e de outras entidades do setor, 100% do papel utilizado para impressão no Brasil provem de áreas reflorestadas, além da reciclagem que agora é um fato em, praticamente, todo o globo.
Em 2007, um sério e alarmante estudo do doutor Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), veio a público e apontou a maior causa do efeito estufa: a produção mundial de carne bovina. Isso mesmo! A pecuária é a verdadeira responsável, mais do que todo o setor de transporte no mundo, pelo aumento no buraco da camada de ozônio e pelo efeito estufa. Graças a isso, o doutor Rajendra dividiu o Prêmio Nobel da Paz daquele ano, com o próprio Al Gore, que também vem apontando causas para o desastre ecológico que está destruindo nosso planeta.
Segundo estudos recentes, cerca de dois terços da área cultivável do mundo está destinada à pecuária. O que representa a devastação de florestas para criação de pastos, cada vez maiores, para atender ao crescente consumo mundial de carne. Ocorre que, ao derrubar florestas, o mato colocado em seu lugar não consegue produzir a mesma quantidade de oxigênio, nem tampouco filtrar uma ínfima parte do gás carbônico que era processado pela mata original. Além disso, o mato rasteiro faz com que a temperatura mundial suba, pois não consegue refrigerar o ar, tal como ocorre com áreas cobertas por árvores de grande porte.
Mas, prezado leitor, o mais impressionante ainda está por vir...
Um único boi, solto no pasto, produz cerca de cinco toneladas (!) de CO2, todos os anos. E este número inclui a flatulência (o pum dos bovinos), os restos da ruminância e, naturalmente, as fezes que continuamente produzem metano. É o mesmo que dizer que um único animal solta na atmosfera o equivalente ao peso de dez carros populares em termos de poluição.
Como você nunca soube disso?
Imaginem que o lobby da indústria da carne e da indústria de leite e seus derivados têm feito o possível para relativizar estes dados. Em números totais, são indústrias muito maiores do que as produtoras de papel e celulose, tendo muito mais poder e influência junto aos governos e junto a toda a sociedade.
Não quero aqui colocar a questão de modo simplista, fazendo com que a carne seja colocada contra o papel. Não se trata disso. Quero que cada leitor pare pra pensar que, ao consumir um delicioso bife, está afetando a natureza muito mais do que estaria ao usar o papel para se comunicar.
É um raciocínio simples: para produzir papel florestas são plantadas, muitas vezes em áreas que haviam sido destruídas pelo manejo precário e pela erosão. Tais florestas produzem oxigênio e contribuem para reduzir a temperatura do planeta. Isto é, elas neutralizam qualquer carbono que é resultante da fabricação do papel. E ainda há um excedente de oxigênio no processo. Esteja certo disso.
Mas é possível produzir carne, sem que esta tragédia aconteça. Experiências nos Estados Unidos, Canadá e Europa, comprovam que o manejo confinado de bovinos preserva florestas e permite que o metano gerado seja captado como forma de energia alternativa. Basta que haja boa vontade e investimento que muitos pecuaristas não estão dispostos a fazer.
Veja leitor, que é justamente o que tem feito toda a indústria papeleira durante todo este tempo, buscando alternativas e produzindo papel de modo consciente e sustentável.
Portanto, se você trabalha com comunicação, design e artes gráficas, pode ficar tranqüilo e continue produzindo impressos. Mas reduza o número de amigos que chama para comer aquele churrasco. OK?
Aliás, faça mais. Coloque no final de suas mensagens de email a frase: Pode imprimir, que ajuda o meio ambiente e cria mais empregos!
Como dica adicional, plante ao menos uma árvore neste ano, pois você sozinho, precisa de duas árvores grandes para neutralizar o carbono produzido por sua própria respiração.
Agora, respire fundo e aproveite esta edição que IMPRIMIMOS com o maior carinho.
Boa leitura!
GIL SALOMON
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